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Sobre a LLEEE

A Liga Latino-Americana de Estudos em Endocrinologia de Equídeos (LLEEE) é um grupo formado por médicos veterinários que reúne profissionais liberais, integrantes de empresas públicas e privadas, professores, pesquisadores e empreendedores de diversos países da América Latina. Todos vêm, progressivamente, se conscientizando da necessidade de aprofundar conhecimentos, desenvolver pesquisas e promover a troca de experiências em busca de uma melhor compreensão da fisiologia e dos processos patológicos relacionados.

Embora o grupo esteja ativo há vários anos, o lançamento oficial da LLEEE ocorreu em março de 2025, durante o I Simpósio Internacional de Síndrome Metabólica Equina (SISME), promovido em conjunto pelo grupo de pesquisa EQUINOVA e pelo Grupo de Estudos NERUM da Universidade Federal de Minas Gerais, além do I Fórum de Endocrinologia Equina em julho de 2025, na XXV Conferência Anual da ABRAVEQ.

Nossa missão

Buscar conhecimento e promover a troca de experiências para o aprimoramento profissional de médicos veterinários em todos os temas pertinentes à endocrinologia de equídeos, com o objetivo de favorecer a saúde, o bem-estar e a plenitude física desses animais, contribuindo para que os serviços prestados ao segmento da sociedade latino-americana envolvida com equídeos sejam de elevado padrão técnico e ético.

Nossa visão

A LLEEE entende que o médico veterinário de equídeos, em qualquer área de atuação, seja clínica, produção ou treinamento, deve estar continuamente informado e atualizado sobre os aspectos relacionados às funções do sistema endócrino. Dessa forma, poderá exercer suas atividades com competência e ética, compreendendo os efeitos das afecções endócrinas sobre a funcionalidade orgânica de sua especialidade, bem como reconhecendo as repercussões benéficas ou deletérias de suas próprias ações sobre a homeostase de seu paciente.

Nossos objetivos

A LLEEE destina-se a agregar e integrar médicos veterinários da América Latina e de outras regiões do mundo que tenham interesse em contribuir para o aprimoramento profissional em endocrinologia de equídeos e tem como objetivos:

a – Agregar e integrar Médicos Veterinários de Equídeos de todas as áreas de atuação que estejam interessados em revisar e aprofundar seus conhecimentos sobre Endocrinologia;

b – Manter um ambiente de compartilhamento de conhecimento baseado em evidências científicas e experiências profissionais em alto nível, com características de inclusão e respeito à diversidade e à ética;

c – Manter uma página na web e contas nas principais mídias sociais para disponibilizar conteúdos midiáticos e promover eventos técnicos e científicos sobre o tema;

d – Manter uma equipe de curadoria para produção de comunicados e seleção de material midiático a ser divulgado pelo canais da LLEE;

e – Participar ativamente, promover, divulgar e auxiliar encontros profissionais sobre Endocrinologia como congressos, simpósios, reuniões técnicas, palestras e outras;

f – Assessorar e colaborar, através de membros ativos e comprometidos, com entidades culturais, educacionais, técnicas, científicas, de direito público ou privado, nacionais ou internacionais que, no seu todo ou em parte, executem trabalhos de Endocrinologia de Equídeos, nas áreas de ensino, pesquisa, divulgação, execução, controle e fiscalização.

Comunicados

Estes comunicados da Liga Latino-Americana de Estudos em Endocrinologia de Equídeos (LLEEE)
focam-se em condições endócrinas com relevância clínica para a indústria de equídeos.

Comunicado 001 | Belo Horizonte, março de 2025

I SIMPÓSIO INTERNACIONAL DA SÍNDROME METABÓLICA EQUINA (SISME 2025)
Síndrome Metabólica Equina (SME)

O uso de dietas hipercalóricas e/ou desbalanceadas em macro e micronutrientes na alimentação de equinos tem se tornado cada vez mais comum no Brasil. Essa prática inadequada tem promovido alterações endócrinas e metabólicas prejudiciais que contribuem para o desenvolvimento da síndrome metabólica equina (SME), caracterizada por obesidade, disfunção insulínica (DI) e laminite endocrinopática. Além disso a SME pode contribuir para a infertilidade nos animais adultos, bem como para doenças metabólicas do desenvolvimento esquelético anormal em potros.

Esta situação foi amplamente documentada e discutida no SISME 2025, promovendo grande preocupação entre organizadores, palestrantes e congressistas sobre as graves consequências para a saúde, bem-estar e eficiência das diversas raças que compõem a Agroindústria dos equinos no Brasil. No wetlab realizado no SISME 2025 usando cavalos com altos escores de condição corporal, mostraram que a DI é altamente prevalente em cavalos Mangalarga Marchador. Ficou evidente no SISME 2025 que a educação de médicos veterinários, treinadores e proprietários, bem como de líderes de associações de raças, será importante para aumentar a conscientização sobre essa endocrinopatia, mas também para implementar medidas para seu controle no Brasil.

No sentido de melhor compreender tais alterações e propor medidas de prevenção e tratamento precoce, foi proposta a criação da LLEEE, com a participação de todos os presentes. Seguem abaixo as principais considerações e diretrizes formuladas durantes as apresentações e mesas redondas do simpósio.

Considerando-se que a DI ocorre de maneira insidiosa, os sinais clínicos iniciais demoram meses ou anos para aparecer, retardando em muito o reconhecimento precoce assim como as suas consequências. Embora nem todo equino exposto a este tipo de dieta desbalanceada e/ou que sofrem de obesidade irá desenvolver DI e/ou laminite, idealmente esses animais deveriam ser submetidos a testes diagnósticos para a identificação precoce da DI, antes que a evolução da doença metabólica progrida para estados patológicos graves e irreversíveis.

Apesar de existirem vários testes para detecção de DI, desde os menos complexos até os mais complexos e caros, a LLEEE considera que o Teste de Glicose Oral (OST) é o mais recomendável por ser de fácil realização e produzir resultados confiáveis para identificar a DI. Este teste é baseado na mensuração da insulina sanguínea após a administração de glucose oral. Outro método alternativo e rápido é a mensuração da glicose no sangue após a administração intravenosa de insulina.

O manejo da SME requer mudanças na dieta (redução de carboidratos solúveis), perda de peso e atividade física. Medidas adicionais como certas drogas que melhoram a sensibilidade da insulina e promovem a perda de peso podem ser consideradas em alguns casos.

Disfunção da pars intermedia hipofisária (PPID)

A disfunção da porção intermediária da hipófise (PPID) também foi assunto emergente abordado durante o SISME 2025, devido aos crescentes relatos da ocorrência em equinos criados em condições nacionais. Essa é uma condição endócrina que, no hemisfério norte e Austrália, acomete cerca de 20% de cavalos, pôneis e jumentos com idade superior a 15 anos, mas considerada incomum em animais jovens, abaixo de 10 anos.

A PPID ocorre primariamente pela degeneração de neurônios hipotalâmicos secretores de dopamina, que normalmente inibem a porção intermediária da hipófise (pars intermedia). Esta perda de inibição provoca proliferação celular excessiva (hiperplasia) e aumento da do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), hormônio estimulante de melanócitos alfa (α-MSH), a beta-endorfina, a beta-lipotropina e o peptídeo intermediário semelhante à corticotropina (CLIP). O aumento da secreção destes hormônios acarreta a muitas mudanças fenotípicas, fisiológicas e sistêmicas nestes animais.

Hipertricose com retenção de pelagem de inverno, atrofia muscular, subfertilidade, disfunção insulínica, laminite, polidipsia/poliúria, sudorese alterada e maior suscetibilidade a infecções são sinais comumente relatados em casos avançados de PPID, sendo essas alterações bem mais sutis em estágios iniciais. O teste diagnóstico mais utilizado é a dosagem dos níveis sanguíneos basais de ACTH, sendo que os valores de referência variam de acordo com a estação do ano, o que é mais evidente em climas temperados. Em animais com resultados ambíguos, o diagnóstico preciso (teste de ouro) é realizado medindo a concentração sanguínea de ACTH após estimulação com o hormônio liberador de tirotropina (TRH).

Infelizmente, o Brasil ainda carece de estudos epidemiológicos de PPID e de valores de referência de ACTH. Também ainda não temos um produto comercial à base de TRH para realizações do teste ouro. Contudo, já existem alguns estudos em andamento. O protocolo para colheita e envio de amostras para dosagem de ACTH se encontra em anexo.

O tratamento da PPID baseia-se principalmente no uso de medicamentos que inibem as células da pars intermedia (agonista da dopamina) e, consequentemente, a produção desses hormônios.

Em resumo, nesse primeiro comunicado, o LLEEE busca alertar a classe médica veterinária para a crescente incidência de DI, SME e PPID em equinos criados em condições nacionais e ressalta que o diagnóstico laboratorial correto é fundamental para que conheçamos o atual cenário e para que possamos iniciar medidas de tratamento precoce e prevenção de forma rápida e determinada. Enfatiza-se também que as doenças endocrinológicas têm caráter persistente, o que exige abordagem técnica qualificada e acompanhamento constante dos animais acometidos por exames clínicos e laboratoriais que envolvem exames hematológicos, bioquímicos e hormonais para monitoração precisa do progresso das terapias implementadas. No futuro, será importante ter colaborações com clínicos de campo, pesquisadores e o setor privado para entender melhor a situação dessas endocrinopatias na América Latina, mas também para implementar medidas para seu controle.

  • Alexandre Gobesso (LabEqui/USP)
  • Armando de Carvalho (Equinova/UFMG)
  • Beatriz Bringel MV, MSc
  • Carlos Nogueira (Clineq/UFPel)
  • Diogo Jayme (UFMG)
  • Fernanda Jordão (UNESP)
  • Gilberto Lourenço MV, MSc
  • Isabella Winter (Equinova/UFMG)
  • Júlio Jacob (EquinoJacob/UFRRJ)
  • Katarzyna Dembek (NC State)
  • Patrícia Brossi MV, MSc
  • Ramiro Toribio (OSU)
  • Stella Swerts MV, MSc
  • Rafael Faleiros (Equinova/UFMG)
  • Vinícius Raposo (IFMG Bambuí)

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